quinta-feira, 14 de abril de 2016
sexta-feira, 1 de abril de 2016
O LIVRO PRIMEIRO DE ATAS DAS SESSÕES DA CÂMARA
SÉRIE “PONTE NOVA: 150 ANOS” – Nº 4
O ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE PONTE NOVA:
GUARDIÃO
DA MEMÓRIA
A qualidade de suas folhas não é boa.
Trata-se de papel produzido à base de pasta de celulose, nova técnica usada
pela indústria da época para acelerar o processo de fabricação do papel,
diferente dos papéis do século XVIII, que eram produzidos a partir de tecido
velho, por isso era chamado “papel de trapo”, um papel sem acidez, composto de
fibras longas de algodão, o que lhe conferia resistência e durabilidade. Já os
papéis fabricados a partir da pasta de celulose, naquela época, eram de baixa
qualidade pelo excesso de acidez e pelas fibras curtas, portanto, de pouca
durabilidade. E é o que se percebe no primeiro livro da Câmara. Com seus 153
anos de uso, suas folhas já estão acidificadas e quebradiças, portanto precisam
ser protegidas para que sobrevivam pelos próximos 153 anos.
Talvez ele seja um dos poucos, ou mesmo,
o único testemunho ainda vivo daquele glorioso dia, o dia em que o povoado de
Ponte Nova conquistou sua autonomia política e administrativa.
Foi este um fato de grande importância
para os moradores de toda a região, pois, com isso, muitas de suas demandas
poderiam ser encaminhadas e resolvidas aqui mesmo, sem ter que recorrer à
cidade de Mariana, da qual a freguesia de Ponte Nova fazia parte.
Era meio dia quando teve início a Sessão da
Câmara para instalação da nova vila e município e dar posse aos vereadores
eleitos. A casa para seu funcionamento foi doada por Antônio Ildefonso Martins
da Silva, sendo concluída e mobiliada pelos próprios moradores de Ponte Nova. É
interessante ver que a casa da Câmara servia também de Cadeia e Tribunal do Júri.
Como presidente da nova Câmara, assumiu
o vereador mais votado, capitão
Manoel Francisco de Souza e Silva, juntamente com os demais vereadores eleitos:
major Miguel Martins Chaves, capitão Antônio Justiniano Gonçalves Fontes, capitão
Joaquim Rodrigues Milagres, capitão Luís José Pinto Coelho da Cunha, capitão
Antônio Carlos Correa Mayrink e Sebastião José do Monte.
Terminada
a sessão de posse, o presidente determinou que todos os atos e documentos
fossem arquivados para serem conservados. Podemos ousar dizer que o Arquivo
Público Municipal de Ponte Nova nascia naquele momento. Isto, porque é consenso
entre os arquivistas e a própria legislação em vigor que arquivo é um conjunto
de documentos produzidos e recebidos por uma instituição ou pessoa no exercício
de suas funções, e não apenas uma instituição que conserva documentos.
José Geraldo Begname
Esp. Historiador/Restaurador
Chefe do Arquivo Público Municipal de
Ponte Nova
ORIGEM DO ACERVO DOCUMENTAL DO MUNICÍPIO DE PONTE NOVA
SÉRIE “PONTE
NOVA: 150 ANOS” - No 3
O ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE PONTE NOVA:
GUARDIÃO
DA MEMÓRIA
Como contar a história
administrativa, social, cultural, política e econômica de Ponte Nova? Esta
história, em parte, só pode ser contada através dos documentos públicos que se
encontram guardados no Arquivo Público Municipal de Ponte Nova. Patrimônio
cultural e científico pertencente a todos, ele deve, por isso, ser preservado.
O Arquivo Público Municipal
de Ponte Nova divulgou recentemente mapa mostrando a área ocupada pelo Município
entre os anos de 1863 e 1876. Por ele, temos uma ideia da extensão do seu
território e da sua população naquela época.
Com
a criação do Município de Ponte Nova e da instalação de sua Câmara Municipal em
1863, coincidia com este fato a instalação do Termo Judiciário e do Cartório do
Primeiro Ofício de Notas, ou seja, a região ganhou autonomia administrativa e
judiciária. Seus cidadãos não precisariam mais ir a Mariana para registrarem
documentos, terras, propor ações na Justiça, solicitar melhorias urbanas etc. É
a partir deste momento que começa a ser constituído o valioso acervo documental
público do Município, que naquela época se estendia até Manhuaçu e Caratinga.
Antes
de mais nada, não podemos, entretanto, perder de vista que a primeira
instituição local foi a Igreja, cuja Paróquia foi instalada em 1833. Assim, o
acervo documental mais antigo existente no Município está na Casa Paroquial da
Matriz São Sebastião. Embora seja um acervo privado, é considerado pela própria
Igreja como de interesse público, por seu valor social, cultural e científico.
Em
nível local, a Câmara era a instituição máxima do poder temporal. Era
responsável pelas questões administrativas, como, por exemplo, controlar a
ocupação e o uso dos espaços públicos, controle do comércio, desenvolvimento da
educação, manutenção dos espaços públicos, serviço de abastecimento de água e
esgoto etc. Assim, a Câmara cuidava das questões legislativas e administrativas
municipais.
Outra
instituição que nasceu juntamente com a Câmara foi o Poder Judiciário, com o Tribunal
do Júri e o Cartório do 1o Ofício de Notas. Com o
desenvolvimento da região, em 1883,
a cidade passa a ser sede de Comarca. Desta forma, consolidava-se
uma nova instituição pública na cidade: o Fórum.
Em
1930, o Poder Executivo se desvincula da Câmara Municipal, passando a ter
representante próprio: o prefeito municipal. Nascia assim a Prefeitura como
instituição independente da Câmara. É bom lembrar, que até 1930, o presidente
da Câmara concentrava em suas mãos as funções de chefe do Legislativo e do Executivo.
No
cumprimento de suas funções, estas três instituições públicas (Câmara, Fórum e
Prefeitura) geraram e ainda geram enorme massa documental.
Esses
documentos, que naquela época nasceram com funções políticas, jurídicas e administrativas,
por serem antigos, datados dos séculos XIX e XX, hoje, além de continuarem
servindo como prova de direitos e obrigações, ganharam outro valor: o cultural
e o científico. Isso significa que a cidade possui um patrimônio cultural que é
único, depositado no seu Arquivo Público Municipal. Também não podemos esquecer
que este patrimônio diz respeito não só a Ponte Nova, mas a toda uma região,
que hoje é formada por 26 municípios, com população de 431.224 habitantes.
O
interesse pela preservação deste acervo documental surgiu na década de 1940, ao
longo da Administração do Prefeito Otávio Soares. Seu secretário de Administração,
o professor Mário Clímaco, liderou o trabalho de catalogação dos documentos da
Câmara. Trabalho que ainda está preservado da forma como foi feito. Este fato
nos revela a ligação de Ponte Nova e alguns de seus intelectuais aos movimentos
nacionais. Isto porque em 1937 o Governo Federal criou o SPHAN (Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), com a finalidade de proteger o
patrimônio histórico e artístico do país. É neste contexto que foram iniciados
os trabalhos de organização do acervo documental do período colonial das cidades
de Mariana e Ouro Preto. Desta forma, Ponte Nova se alinhava à política
nacional de preservação do patrimônio cultural ao cuidar da preservação de seus
documentos públicos.
Em
1971, importante trabalho de arrolamento das fontes documentais históricas de
Ponte Nova foi feito pela professora Olívia Marina de Avellar Senna, para ser
apresentado no VI Simpósio Nacional de Professores Universitários de História,
realizado naquele ano, em
Goiás. Nesse trabalho, ela identifica 14 “Arquivos”, ou
fundos documentais diferentes, a saber: Arquivo da Câmara Municipal (1863),
Arquivo da Prefeitura Municipal (1930), Arquivo da Paróquia São Sebastião
(1833), Arquivo da Paróquia da Santíssima Trindade/bairro Triângulo (1966),
Arquivo da Paróquia São Pedro/bairro Palmeiras (1926), Arquivo do Cartório de
Registro Civil (1889), Arquivo do Cartório do 1o Ofício
(1863), Arquivo do Cartório do 2o Ofício (1863), Arquivo do
Cartório do 3o Ofício (1926), Arquivo do Cartório de Registro
de Imóveis (1874), Arquivo do Cartório Distribuidor, Contador, Partidor e
Avaliador Judicial (1882), Arquivo do Cartório de Títulos, Documentos e
Protestos (1923), Arquivo do Cartório Privativo do Crime (1863) e, por fim, um
conjunto de jornais editados no Município (1886). Seu trabalho consistiu numa
listagem informando os tipos documentais existentes nesses arquivos e suas
datas-limite. Este foi, sem dúvida, o mais importante levantamento dos documentos
existentes nos arquivos da cidade em épocas passadas.
Em
1993, outro trabalho importante na história da formação do Arquivo Público
Municipal de Ponte Nova foi desenvolvido pelo professor Ângelo Alves Carrara,
do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto.
Diferentemente do trabalho desenvolvido pela professora Olívia, este teve como
ação principal a organização e o acondicionamento da massa documental acumulada,
que se encontrava desordenada. Participou ativamente deste trabalho Isabel
Martins de Oliveira Penna, na época, funcionária da Prefeitura e responsável
pelo Arquivo.
A
fim de garantir que este trabalho não se perdesse e que os novos documentos
produzidos pelos órgãos públicos passassem a ser acumulados de maneira
ordenada, foi aprovada pela Câmara a Lei 1.908, de 21 de dezembro de 1993, que
instituiu o Sistema de Arquivos do Município de Ponte Nova. Claramente uma ação
que visava, já naquela época, proporcionar ao Município uma organização
sistêmica e continuada de seus arquivos, assim como a sua preservação
obrigatória.
Embora a proposta do professor Carrara fosse
notável, novamente a gestão dos arquivos e a própria Lei Municipal no
1.908 caíram no esquecimento das administrações vindouras. O resultado do
descaso não poderia ser diferente, e a documentação continuou sendo acumulada
de maneira desordenada, com a falta de investimentos expondo os documentos aos
riscos de perdas e danos em razão do descuido.
Felizmente a documentação sobreviveu e, no período de dezembro de 2006 a dezembro de 2008, foi
desenvolvido novo projeto, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), orientado pelo mesmo professor
Carrara e coordenado pela historiadora mestra Alexandra Maria Pereira. Toda a
documentação relativa ao período de 1863 a 1945 foi higienizada e inventariada. O
inventário gerado possibilitou o tombamento provisório desta documentação em
2014 pelo Decreto Municipal no 9.728. Em 2007, foi
incorporado ao acervo do Arquivo o Fundo Documental do Cartório do Primeiro
Ofício de Notas (1863-1945).
Entre 2015 e o início deste ano (2016), novas ações
buscaram modernizar os serviços do Arquivo Público Municipal. Entre elas, está
a aprovação da Lei Municipal no 3.968/2015 estabelecendo a adequação
das competências do Arquivo Público Municipal à legislação vigente. Foram
adquiridos equipamentos para montagem de laboratório de conservação de
documentos (freezer e mesa de higienização), bem como mobiliário para melhor
conservação dos documentos. Na parte física do Arquivo Público Municipal, está
em andamento ampla reforma: troca do telhado, colocação de isolamento térmico e
forro, troca das instalações elétricas, pintura e remoção das estantes de
madeira. A soma destes investimentos supera R$ 43.000,00, sendo a maior parte
executada com recurso próprio e com recurso do Fundo Municipal de Cultura, investimento
aprovado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural e Natural de Ponte Nova.
José Geraldo Begname
Esp. Historiador/Restaurador
Chefe
do Arquivo Público Municipal de Ponte Nova
PARA QUE SERVE UM ARQUIVO?
SÉRIE
“PONTE NOVA: 150 ANOS” - No
1
O
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE PONTE NOVA:
GUARDIÃO DA MEMÓRIA
Não podemos conhecer a
história de Ponte Nova apenas caminhando por suas ruas mais antigas ou lendo livros
que contam sua história. É preciso “caminhar” também por seus documentos,
guardados pelo Arquivo Público Municipal de Ponte Nova.
Há pessoas que acreditam que
arquivo é um lugar sem vida, abandonado, depósito de caixas com papéis velhos e
inúteis, daí a expressão “arquivo morto”. No outro extremo, estão aqueles que
acreditam que é um local para pessoas eruditas, pesquisadores, cientistas. Não!
Arquivo deve ser um local de acesso para qualquer cidadão sobretudo ao conteúdo
de seu acervo. Não existem cidadania,
democracia, liberdade sem acesso à informação, ao conhecimento, parte deles
depositada em nossos arquivos.
Desta forma, o arquivo é um
tipo de instituição que guarda a memória da sociedade que o gerou. Os
documentos são importantes porque são fontes de informação sobre a cultura, as
relações sociais e econômicas, entre tantas outras possibilidades de pesquisa,
tantas quantas nossa criatividade permitir. Os documentos, por tratarem de
fatos e atos específicos de uma sociedade, pessoa, época, são únicos. Cada
documento constitui uma unidade particular, mesmo que serial, diferentemente
dos livros de bibliotecas, que são editados em maior quantidade de unidades.
Quando deixamos um arquivo se perder, deteriorar, queimar, tomar chuva, jamais
será substituído por completo, mesmo havendo cópias de segurança, simplesmente
por serem cópias. Por exemplo, se o primeiro livro de atas da Câmara se perder,
não encontraremos outro em lugar algum, é um livro único.
Uma política de preservação da
cultura de um povo e de seu patrimônio cultural não terá êxito, se deixar de
lado os arquivos. Um patrimônio edificado não enseja em si valor apenas
estético, mas dele nos interessa saber também quem o construiu, a técnica
utilizada, os materiais, o valor financeiro, o tempo de execução, o seu
significado para a comunidade etc. Muitas dessas informações terão de ser
buscadas nos arquivos.
Não existe arquivo morto. Um
arquivo morre quando nós o matamos, por vontade ou omissão. Assim disse um
estudioso da arquivologia em 1913: “O grau de civilidade de um povo se mede
pela forma como cuida de seus arquivos.” Disse isso, não por acreditar que é
nobre cuidar das coisas antigas, por serem simplesmente antigas ou belas, mas
por possuírem valor informativo de relevância para a cultura e a ciência. Ele
não está preocupado em preservar o que ficou do passado como se fossem
relíquias, exemplares de um tempo que não voltará. Não! Ele está preocupado
também com o futuro!
Os arquivos constituem um tipo
de lugar tão importante quanto os museus. Preservá-los é necessário, se
queremos construir uma sociedade livre e democrática. Não há como edificar a
liberdade e a democracia sem que todos tenham acesso à informação e ao
conhecimento. Este preceito é tão importante, que está definido na Constituição
Brasileira, em seu art. 5o, incisos XIV e XXXIII, que tratam
do acesso a informação e aos documentos públicos. Não há garantias de que os
cidadãos tenham acesso à informação, se os documentos não forem preservados ou
estiverem inacessíveis. Cabe aos Municípios a preservação da documentação
pública municipal: é o que diz o parágrafo 2o do art. 216 da
Constituição Federal.
Uma pesquisa recente, feita
pelo Conselho Nacional de Arquivos, concluiu, entretanto, que apenas um por
cento dos Municípios brasileiros possui arquivos. Por que o número é tão baixo?
Por duas razões maiores. A primeira é de ordem política. Não há política
pública nos Municípios para preservação de arquivos. A maior parte dos
investimentos que existem é feita com recursos do Estado ou da União, através
das políticas de incentivo à cultura. A segunda é de ordem técnica.
O Conselho Nacional de
Arquivos considera arquivo somente aquelas instituições que desempenham suas
funções tanto de custódia, como de preservação, de difusão de seus acervos e de
gestão documental, como definido na Lei Federal de Arquivos (8.159/1991). Não
significa que apenas um por cento dos Municípios possui documentação
preservada. Significa que muitos Municípios não têm nenhum tipo de política ou
ação de preservação de seus documentos. Um arquivo vivo, moderno desenvolve seu
trabalho ao longo das três idades dos documentos: a corrente, a intermediária e
a permanente.
José Geraldo Begname
Esp.
Historiador/Restaurador
Chefe
do Arquivo Público Municipal de Ponte Nova
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